http://www.youtube.com/watch?v=zjw-XMnm5Rk – Zizi Possi Canta Ciranda
http://www.youtube.com/watch?v=IRwalVBIWIw - Ciranda no Pátio de São Pedro 2009
http://www.youtube.com/watch?v=bmZuN3Jf5uI&videos=vlRjwa_-IO0&playnext_from=TL&playnext=1 - Coco do Amaro Branco
segunda-feira, 25 de maio de 2009
DONA DUDA – A Primeira Cirandeira do Brasil (do livro de Cylene Araújo) - Parte 4
Depoimentos de Familiares, Amigos e Fãs
“Dona Duda significa vitória, música, alegria. Uma mulher que dedicou toda sua vida ao amor à ciranda. Conseguiu manter viva essa manifestação nobre da cultura pernambucana e formar cirandeiros por todo o Nordeste. Para mim foi um prazer participar dessa homenagem”
Nádia Maia – Cantora/Forrozeira (Atualmente morando em Olinda)
“Eu comecei dentro da Televisão pernambucana, TV Jornal do Commercio, e desde o início dos anos 70 que ouço falar na ciranda de Dona Duda. Os comentários eram muitos sobre as pessoas de expressão nacional que vinham conhecer Dona Duda. Na condição de coreógrafa da TV Jornal, muitas vezes estilizei o corpo de balé tentando copiar sua ciranda. Dona Duda para todos nós é um marco. Para mim é um prazer, é uma satisfação falar de uma pessoa tão importante dentro da cultura nordestina. Geraldo Silva, meu companheiro e jornalista, se estivesse conosco, teria muito mais a dizer sobre Dona Duda, pois ele era um amante e pesquisador do folclore e da nossa cultura. Em sua coluna no Jornal do Commercio, a cultura de raiz e os artistas locais tinham sempre o maior destaque.
Nara Galvão – Coreógrafa e Produtora Cultural (Atualmente mora na Europa)
“Dona Duda é uma tradição cultural de Pernambuco e estava esquecida. Aqui em nosso estado temos essa mania de valorizar o que vem de fora e esquecer de gritar que “ somos os melhores na diversidade cultural”. O povo gosta, mas os que mandam na cultura botam uma pedra em cima” Dona Duda com sua ciranda, durante muitos anos, foi a maior expressão feminina da cultura popular nordestina. Isso é uma verdade que precisava ser revista nos registros culturais do nosso povo”
Elias Lourenço – Radialista e Pesquisador Musical
“Falar de Dona Duda é falar do Janga. Ela é a cara do Janga. Dona Duda é a maior personalidade do Janga” A pessoa que mais promoveu nossas praias, a cidade de Paulista, com sua ciranda, sua alegria, com seu trabalho, porque ela não foi só uam cirandeira, foi também empresária. Acho que nós que vivemos aqui devemos tudo a ela. Quando ela chegou aqui, só existia mato, ela desbravou com sua força e os outros chegaram depois. Uma mulher forte, guerreira, que vence tudo na vida, as doenças, os dissabores. Falar dela é falar de uma grande nordestina. Nós a conhecemos há vinte e cinco anos. Eu vim de Araripina, sertão de Pernambuco. Meu esposo, Salvador Dimech, é europeu da Ilha de Malta. Nós casamos e escolhemos o Janga para morar. Aqui nós temos um trabalho comunitário social muito bonito, uma cooperativa de pescadores e Dina Duda e seu filho Davi nos dão um apoio muito forte”
Nágela Santiago Dimech – Moradora do Janga
“Dona Duda significa vitória, música, alegria. Uma mulher que dedicou toda sua vida ao amor à ciranda. Conseguiu manter viva essa manifestação nobre da cultura pernambucana e formar cirandeiros por todo o Nordeste. Para mim foi um prazer participar dessa homenagem”
Nádia Maia – Cantora/Forrozeira (Atualmente morando em Olinda)
“Eu comecei dentro da Televisão pernambucana, TV Jornal do Commercio, e desde o início dos anos 70 que ouço falar na ciranda de Dona Duda. Os comentários eram muitos sobre as pessoas de expressão nacional que vinham conhecer Dona Duda. Na condição de coreógrafa da TV Jornal, muitas vezes estilizei o corpo de balé tentando copiar sua ciranda. Dona Duda para todos nós é um marco. Para mim é um prazer, é uma satisfação falar de uma pessoa tão importante dentro da cultura nordestina. Geraldo Silva, meu companheiro e jornalista, se estivesse conosco, teria muito mais a dizer sobre Dona Duda, pois ele era um amante e pesquisador do folclore e da nossa cultura. Em sua coluna no Jornal do Commercio, a cultura de raiz e os artistas locais tinham sempre o maior destaque.
Nara Galvão – Coreógrafa e Produtora Cultural (Atualmente mora na Europa)
“Dona Duda é uma tradição cultural de Pernambuco e estava esquecida. Aqui em nosso estado temos essa mania de valorizar o que vem de fora e esquecer de gritar que “ somos os melhores na diversidade cultural”. O povo gosta, mas os que mandam na cultura botam uma pedra em cima” Dona Duda com sua ciranda, durante muitos anos, foi a maior expressão feminina da cultura popular nordestina. Isso é uma verdade que precisava ser revista nos registros culturais do nosso povo”
Elias Lourenço – Radialista e Pesquisador Musical
“Falar de Dona Duda é falar do Janga. Ela é a cara do Janga. Dona Duda é a maior personalidade do Janga” A pessoa que mais promoveu nossas praias, a cidade de Paulista, com sua ciranda, sua alegria, com seu trabalho, porque ela não foi só uam cirandeira, foi também empresária. Acho que nós que vivemos aqui devemos tudo a ela. Quando ela chegou aqui, só existia mato, ela desbravou com sua força e os outros chegaram depois. Uma mulher forte, guerreira, que vence tudo na vida, as doenças, os dissabores. Falar dela é falar de uma grande nordestina. Nós a conhecemos há vinte e cinco anos. Eu vim de Araripina, sertão de Pernambuco. Meu esposo, Salvador Dimech, é europeu da Ilha de Malta. Nós casamos e escolhemos o Janga para morar. Aqui nós temos um trabalho comunitário social muito bonito, uma cooperativa de pescadores e Dina Duda e seu filho Davi nos dão um apoio muito forte”
Nágela Santiago Dimech – Moradora do Janga
DONA DUDA – A Primeira Cirandeira do Brasil (do livro de Cylene Araújo) - Parte 3
O Desenvolvimento Comercial e Social do Janga
O primeiro bar inaugurado na praia do Janga foi o BAR COBIÇADO, de propriedade do casal Duda e Amaro, posteriormente sucedido por alguns outros estabelecimentos comerciais, todos com a direta, participação do mesmo casal. Dessa forma, Duda e Amaro participam da instalação do primeiro mercadinho, da primeira peixaria e do primeiro frigorífico.
O interessante é que a sua ciranda nos anos sessenta chamava-se COBIÇADA e o motivo dessa denominação vem do fato de que suas funções eram realizadas em frente ao bar do mesmo nome, de sua propriedade.
Em reconhecimento ao talento e à importância cultural que ela representa, o nome Dona Duda está estampado em placas de sinalização de trânsito em BR e, desde sua construção, na PE 22.
Caridade, Arte e Cultura
Na verdade, nela falou sempre mais alto o amor pela arte. Nos seus espaços culturais e de lazer, sempre esteve a promover por conta própria, os mais diversos espetáculos populares, por exemplo, dezenas de festivais de ciranda e de quadrilha junina, eventos que recebiam o prestígio da participação de alguns dos mais talentosos artistas da Música Popular Brasileira, entre eles Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Nela sempre falou mais alto o prazer de mostrar as raízes das culturas populares nordestinas, em particular, as pernambucanas, muitas vezes através de palestras gratuitas para escolas públicas. A propósito, o sonho de Dona Duda, é a construção de um espaço cultural à beira do mar integrado a uma escola para a formação musical de crianças.
Depoimentos e um Pouco da Filosofia de Dona Duda
“Quando casei aqui no Janga, meu marido Amaro tinha “posses” e era considerado proprietário. Naquela época, só eles pagavam impostos. Praieiros e pescadores usufruíam de tudo e nada pagavam. Então resolvi compor uma ciranda assim:
Praia do Janga, só tem cajú e coqueiros
Em cada sítio daquele tem um dono
Embora pague o imposto todo ano
Naquela praia vida boa é dos praieiros
Na maré morta cada um faz seu viveiro
Que é pra pegar o peixe na emboscada
Quer ver bonito no tempo da trovoada
A maré bate na praia fazendo oiteiro
Anos depois eu soube que Baracho estava cantando a minha ciranda, que tinha gravado se dizendo o autor. Depois ouvi Teça Calazans cantando em CD, com autoria de Baracho. Então é assim, minha filha, eu criei e não me deram nem parceria”
“Criei muitas cirandas como até hoje faço. Baracho gravou muitas delas se dizendo autor. Algumas ele trocou o início de uma frase ou o final da letra para disfarçar. Mas eu sei do meu valor. Canto e escrevo letras, apesar do pouco estudo que tive,. Nunca me preocupei em essas histórias de ser estrela”
“Agora eu quero afirmar que falam por aí muitas coisas sobre a Ciranda. Que ela surgiu ali e acolá. Mas ninguém prova. Eu sou a prova viva de 81 anos (hoje, 86). Sempre vivi da ciranda esses anos todos. Nunca conheci ciranda antes da minha. Nem em Olinda, nem em Abreu e Lima, nem em Itapissuma, nem em Nazaré da Mata, nem no Recife, tão pouco em Itamaracá. Mais de 30 anos as prefeituras me convidando para ensinar ciranda em suas cidades e formar seus mestres. No início dos anos 70, já era chamada de madrinha de diversas cirandas que estavam surgindo em festivais. Me considero “mãe” de todos esses grupos, cirandeiros e cirandeiras que estão hoje na praça.”.
“Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Essa ciranda quem me deu foi Lia
Que mora na Ilha de Itamaracá”
“Os registros por aí omitem a verdade e confundem as pessoas. Essa música é de autoria de Baracho e não foi feita para Lia de Itamaracá (o nome Itamaracá na letra, era para facilitar a rima com “as pancadas do mar”). O livro “Espetáculso Populares” diz que é da Teca Calazans. Mas essa história que eu conto é a história que eu presenciei dentro de minha casa. Se falarem porque nunca disse nada, eu respondo que nunca me perguntaram. E eu nunca precisei de promoção. Estou falando agora porque tudo tem a sua vez e hora. E também porque alguém pediu para que eu falasse de minha vida. E eu tenho que contar somente a verdade (...) No início dos anos setenta recebí medalha de menção honrosa do governador de Pernambuco pela divulgação da cultura (...) A ciranda tem que ter um som melódico, nem alto, nem baixo de mais, para que ao mesmo tempo todos cantem e dancem (...) Minha preocupação com as crianças é muito grande. Quero sempre o bem delas. Gostaria muito que as professoras de hoje ensinassem as crianças o Hino Nacional, as cantigas de roda inocentes, uma oração ao entrar na aula. Essas coisas eu considero tão importantes como aprender matemática, porque alimentam a alma e transformam o homem”.
O primeiro bar inaugurado na praia do Janga foi o BAR COBIÇADO, de propriedade do casal Duda e Amaro, posteriormente sucedido por alguns outros estabelecimentos comerciais, todos com a direta, participação do mesmo casal. Dessa forma, Duda e Amaro participam da instalação do primeiro mercadinho, da primeira peixaria e do primeiro frigorífico.
O interessante é que a sua ciranda nos anos sessenta chamava-se COBIÇADA e o motivo dessa denominação vem do fato de que suas funções eram realizadas em frente ao bar do mesmo nome, de sua propriedade.
Em reconhecimento ao talento e à importância cultural que ela representa, o nome Dona Duda está estampado em placas de sinalização de trânsito em BR e, desde sua construção, na PE 22.
Caridade, Arte e Cultura
Na verdade, nela falou sempre mais alto o amor pela arte. Nos seus espaços culturais e de lazer, sempre esteve a promover por conta própria, os mais diversos espetáculos populares, por exemplo, dezenas de festivais de ciranda e de quadrilha junina, eventos que recebiam o prestígio da participação de alguns dos mais talentosos artistas da Música Popular Brasileira, entre eles Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Nela sempre falou mais alto o prazer de mostrar as raízes das culturas populares nordestinas, em particular, as pernambucanas, muitas vezes através de palestras gratuitas para escolas públicas. A propósito, o sonho de Dona Duda, é a construção de um espaço cultural à beira do mar integrado a uma escola para a formação musical de crianças.
Depoimentos e um Pouco da Filosofia de Dona Duda
“Quando casei aqui no Janga, meu marido Amaro tinha “posses” e era considerado proprietário. Naquela época, só eles pagavam impostos. Praieiros e pescadores usufruíam de tudo e nada pagavam. Então resolvi compor uma ciranda assim:
Praia do Janga, só tem cajú e coqueiros
Em cada sítio daquele tem um dono
Embora pague o imposto todo ano
Naquela praia vida boa é dos praieiros
Na maré morta cada um faz seu viveiro
Que é pra pegar o peixe na emboscada
Quer ver bonito no tempo da trovoada
A maré bate na praia fazendo oiteiro
Anos depois eu soube que Baracho estava cantando a minha ciranda, que tinha gravado se dizendo o autor. Depois ouvi Teça Calazans cantando em CD, com autoria de Baracho. Então é assim, minha filha, eu criei e não me deram nem parceria”
“Criei muitas cirandas como até hoje faço. Baracho gravou muitas delas se dizendo autor. Algumas ele trocou o início de uma frase ou o final da letra para disfarçar. Mas eu sei do meu valor. Canto e escrevo letras, apesar do pouco estudo que tive,. Nunca me preocupei em essas histórias de ser estrela”
“Agora eu quero afirmar que falam por aí muitas coisas sobre a Ciranda. Que ela surgiu ali e acolá. Mas ninguém prova. Eu sou a prova viva de 81 anos (hoje, 86). Sempre vivi da ciranda esses anos todos. Nunca conheci ciranda antes da minha. Nem em Olinda, nem em Abreu e Lima, nem em Itapissuma, nem em Nazaré da Mata, nem no Recife, tão pouco em Itamaracá. Mais de 30 anos as prefeituras me convidando para ensinar ciranda em suas cidades e formar seus mestres. No início dos anos 70, já era chamada de madrinha de diversas cirandas que estavam surgindo em festivais. Me considero “mãe” de todos esses grupos, cirandeiros e cirandeiras que estão hoje na praça.”.
“Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Essa ciranda quem me deu foi Lia
Que mora na Ilha de Itamaracá”
“Os registros por aí omitem a verdade e confundem as pessoas. Essa música é de autoria de Baracho e não foi feita para Lia de Itamaracá (o nome Itamaracá na letra, era para facilitar a rima com “as pancadas do mar”). O livro “Espetáculso Populares” diz que é da Teca Calazans. Mas essa história que eu conto é a história que eu presenciei dentro de minha casa. Se falarem porque nunca disse nada, eu respondo que nunca me perguntaram. E eu nunca precisei de promoção. Estou falando agora porque tudo tem a sua vez e hora. E também porque alguém pediu para que eu falasse de minha vida. E eu tenho que contar somente a verdade (...) No início dos anos setenta recebí medalha de menção honrosa do governador de Pernambuco pela divulgação da cultura (...) A ciranda tem que ter um som melódico, nem alto, nem baixo de mais, para que ao mesmo tempo todos cantem e dancem (...) Minha preocupação com as crianças é muito grande. Quero sempre o bem delas. Gostaria muito que as professoras de hoje ensinassem as crianças o Hino Nacional, as cantigas de roda inocentes, uma oração ao entrar na aula. Essas coisas eu considero tão importantes como aprender matemática, porque alimentam a alma e transformam o homem”.
DONA DUDA – A Primeira Cirandeira do Brasil (do livro de Cylene Araújo) - Parte 2
Onde tudo começou
Filha de agricultores, Vitalina Alberta de Souza Paz, 81 anos, nasceu no dia 11 de abril de 1923 no Engenho Muçaiba – Jaboatão dos Guararapes, município distante 30km do Recife. Aos 12 anos de idade, em 1935, compôs a primeira CIRANDA. A partir de então começou a dividir o seu talento nato para a arte, com a família, com os amigos e com o povo que a consagrou.
“Minha mãe era uma santa”
A pequena Duda ainda era uma criança, mas já fazia brincadeiras de roda com amigas, cantarolando as canções folclóricas da época. Provavelmente do tio Manoel, irmão do pai, que era coquista, repentista e contador de causos, tenha herdado o talento e a versatilidade para a arte. Um fato que a primeira vista pode parecer estranho, no mínimo curioso, é que sem conhecer uma praia, e muito menos a praia onde, no futuro, passaria a residir, a pequena Duda, na primeira ciranda de sua autoria, com apenas 12 anos, faz citações à praia do Janga.
O Primeiro Encontro com o Mar
Com o fim do primeiro casamento, em plena juventude dos 19 anos, acompanhada da irmã Anésia, Dona Duda foi procurar uma casa para alugar na praia do Janga. 25 de agosto de 1942.
“Ah! Criatura!, quando avistei o mar...
Eu achei que era meu jardim!
Achei a coisa mais linda da minha vida...
Me apaixonei pelo mar...
Como é lindo esse jardim do meu DEUS”
“Eu cheguei na praia avistei a areia...
A maré ta cheia, eu não vou passar.
Venha canoeiro, venha me buscar
Que a maré ta cheia e pode me matar”
Canto sempre preocupado com a divulgação dos temas do cotidiano popular, da natureza e do amor, elementos que entremeiam as festivas motivações artístico-culturais da praia do janga.
A Ciranda está no Sangue
No início dos anos 50, quando vê os filhos dos pescadores soltos na beira do mar enquanto os pais se divertiam na dança do “coco de roda”, um tipo de dança não recomendado para crianças em vista do forte apelo explícito da sensualidade, Dona Duda imagina reverter aqueles horizontes um tanto desairosos para a observância dos bons costumes e dos deveres. Resolve convidar a todos para participar de noitadas com roda de ciranda com a única preocupação de divertir a criançada. Cantava o refrão de uma música e pedia que todos repetissem. Ao mesmo tempo começa a ensinar a coreografia imitando as ondas do mar, batendo na areia como se fosse um gostoso “vai e vem”.
A princípio, Dona Duda não utilizava a percussão, cantava à capela. Depois, pede a um conhecido que confeccione alguns instrumentos, por ela própria estilizados: zabumba de macaíba com pele de couro de boi, tarô feito de lata e pele de bode e o ganzá de lata com milho dentro para permitir um com mais primitivo.
Os comentários chegam aos pescadores que pouco a pouco vão abandonando o coco de roda para acompanhar os filhos.
Por essa época, diversos artistas que até então apenas cantavam coco e maracatu, foram por ela chamados para participar da ciranda. Todos acabam e se integrando de vez a esse novo bailado, de dança e de música. Entre eles: Baracho, Zé de Lima, Zé Custódio, Zé Grande e Zé de Limoeiro.
O sucesso da ciranda ultrapassa as fronteiras pernambucanas. Personalidades de todos os segmentos da sociedade, principalmente os do cenário musical, não apenas do Brasil, também do estrangeiro, chegam para conhecer a ciranda de Dona Duda.
A ciranda dos tempos atuais é do conhecimento de todos, praticamente ocupa o coração da maioria das cidades no Nordeste, principalmente na região praiana, onde sempre haverá de existir um cirandeiro de plantão para consagração das festas populares, engrandecendo ainda mais, qualquer roteiro turístico, além de ter sido admitida no repertório de alguns dos mais conceituados cantores e compositores da conteporânea Música Popular Brasileira.
Filha de agricultores, Vitalina Alberta de Souza Paz, 81 anos, nasceu no dia 11 de abril de 1923 no Engenho Muçaiba – Jaboatão dos Guararapes, município distante 30km do Recife. Aos 12 anos de idade, em 1935, compôs a primeira CIRANDA. A partir de então começou a dividir o seu talento nato para a arte, com a família, com os amigos e com o povo que a consagrou.
“Minha mãe era uma santa”
A pequena Duda ainda era uma criança, mas já fazia brincadeiras de roda com amigas, cantarolando as canções folclóricas da época. Provavelmente do tio Manoel, irmão do pai, que era coquista, repentista e contador de causos, tenha herdado o talento e a versatilidade para a arte. Um fato que a primeira vista pode parecer estranho, no mínimo curioso, é que sem conhecer uma praia, e muito menos a praia onde, no futuro, passaria a residir, a pequena Duda, na primeira ciranda de sua autoria, com apenas 12 anos, faz citações à praia do Janga.
O Primeiro Encontro com o Mar
Com o fim do primeiro casamento, em plena juventude dos 19 anos, acompanhada da irmã Anésia, Dona Duda foi procurar uma casa para alugar na praia do Janga. 25 de agosto de 1942.
“Ah! Criatura!, quando avistei o mar...
Eu achei que era meu jardim!
Achei a coisa mais linda da minha vida...
Me apaixonei pelo mar...
Como é lindo esse jardim do meu DEUS”
“Eu cheguei na praia avistei a areia...
A maré ta cheia, eu não vou passar.
Venha canoeiro, venha me buscar
Que a maré ta cheia e pode me matar”
Canto sempre preocupado com a divulgação dos temas do cotidiano popular, da natureza e do amor, elementos que entremeiam as festivas motivações artístico-culturais da praia do janga.
A Ciranda está no Sangue
No início dos anos 50, quando vê os filhos dos pescadores soltos na beira do mar enquanto os pais se divertiam na dança do “coco de roda”, um tipo de dança não recomendado para crianças em vista do forte apelo explícito da sensualidade, Dona Duda imagina reverter aqueles horizontes um tanto desairosos para a observância dos bons costumes e dos deveres. Resolve convidar a todos para participar de noitadas com roda de ciranda com a única preocupação de divertir a criançada. Cantava o refrão de uma música e pedia que todos repetissem. Ao mesmo tempo começa a ensinar a coreografia imitando as ondas do mar, batendo na areia como se fosse um gostoso “vai e vem”.
A princípio, Dona Duda não utilizava a percussão, cantava à capela. Depois, pede a um conhecido que confeccione alguns instrumentos, por ela própria estilizados: zabumba de macaíba com pele de couro de boi, tarô feito de lata e pele de bode e o ganzá de lata com milho dentro para permitir um com mais primitivo.
Os comentários chegam aos pescadores que pouco a pouco vão abandonando o coco de roda para acompanhar os filhos.
Por essa época, diversos artistas que até então apenas cantavam coco e maracatu, foram por ela chamados para participar da ciranda. Todos acabam e se integrando de vez a esse novo bailado, de dança e de música. Entre eles: Baracho, Zé de Lima, Zé Custódio, Zé Grande e Zé de Limoeiro.
O sucesso da ciranda ultrapassa as fronteiras pernambucanas. Personalidades de todos os segmentos da sociedade, principalmente os do cenário musical, não apenas do Brasil, também do estrangeiro, chegam para conhecer a ciranda de Dona Duda.
A ciranda dos tempos atuais é do conhecimento de todos, praticamente ocupa o coração da maioria das cidades no Nordeste, principalmente na região praiana, onde sempre haverá de existir um cirandeiro de plantão para consagração das festas populares, engrandecendo ainda mais, qualquer roteiro turístico, além de ter sido admitida no repertório de alguns dos mais conceituados cantores e compositores da conteporânea Música Popular Brasileira.
DONA DUDA – A Primeira Cirandeira do Brasil (do livro de Cylene Araújo) - Parte 1

Dona Duda é a primeira cirandeira popular nos registros da cultura popular do Nordeste.
Dona Duda, A Ciranda do Amor
Originária de Portugal como dança de roda para adultos, provavelmente também dos formatos das quadrilhas européias, a ciranda começou a ser popularizada no Brasil na Zona da Mata e nas praias pernambucanas, depois então se espalhando por todo o Nordeste, onde, com o passar dos tempos, chegou a ofuscar um outro ritmo muito festejado em toda a Zona Norte do estado: o coco.
Resultante da mistura, não apenas do canto e da dança, em especial de brincadeiras e recreações, principalmente no sul do país, porque praticada como samba rural e mesmo momo dança de roda infantil, a ciranda, inicialmente representada por mulheres de pescadores que esperavam a volta de seus maridos, entrança as mais vivas e belas cores nordestinas do folclore.
No passo de cirandeiros ou cirandeiras, entoando temáticas poéticas bastante variadas, dizem até também de mãos dadas com o reisado, daí chegando ao repertório musical, todas as origens e camadas musicais distribuídas na ciranda irão comprovar não haver espaços para quaisquer discriminações. O interessante é que o corpo de cada figurante simetricamente acompanhe, em compasso de balanço e de molejo, as “tiradas” do mestre, enquanto são dançadas e cantadas as respostas. Mesmo porque, em tempo de democracia e ao som de flautas, zabumbas, trompetes e caixa, além do ganzá “chocalhado” pelo próprio cirandeiro, elementos da orquestra centrados na roda, todos dão-se as mãos formando uma enorme roda.
Nas praias pernambucanas, mais especificamente no Janga, provavelmente tenha sido a pioneira na expansão, no canto e na composição do gênero ciranda, dança e música. Não há, no entanto, como eleger Vitalina Alberta de Souza Paz, a Dona Duda da praia do Janga, uma morena bonita dos olhos da cor do mar, como a primeira cirandeira do Brasil. Sobretudo porque não me ocorre nenhuma outra dama cirandeira que a ela tenha precedido.
Perfil da homenageada
Nome completo: Vitalina Alberta de Souza Paz
Noem artístico: Dona Duda
Data: 11 de abril de 1923
Altura: 1,65
Religião Católica
Ídolo: DEUS
Uma personalidade na música: Luiz Gonzaga
O amor: a essência para humanidade
Gratidão: sempre
Detesta: o descaso de alguns órgãos públicos que tratam a cultura como um lixo
Alegria: a ciranda
Tristeza: ver crianças soltas sem educação caindo no vício
Onde mora: Praia do Janga
Um lugar: Jaboatão dos Guararapes
Prato predileto: peixe
Roupa: coloridas e leves
Animal: cachorro
Time do coração: seleção brasileira
Orgulho: de ser cirandeira
Sonho: transformar a área de lazer de sua ciranda em uma escola de educação artística musical
Uma frase: “Sempre acho que sou forte e bonita. Alegria de viver eu tenho muita”
Um pensamento: “Gostaria de ser para meu povo uma espécie de folclore permanentemente vivo para que o tempo não pudesse decompor nossas raízes”
Côco de Roda


Diante da beleza de sua dança e da força dos seus versos, muitos folcloristas traçaram definições a respeito do coco. A maioria concorda que ele foi primeiramente um canto de trabalho dos tiradores de côco, e que somente depois transformou- se em ritmo dançado. Uns afirmam que ele nasceu nos engenhos, indo mais tarde para o litoral, e espalhando-se posteriormente nos ambientes mais chiques. Outros, no entanto, dizem que ele é essencialmente praieiro, devido à predominância da vegetação de coqueiros encontrados nesta região. Em relação ao Estado nordestino no qual teria nascido o coco a discordância ainda é maior. Alagoas, Paraíba e Pernambuco alternam-se nos textos existentes como prováveis “donos” deste folguedo. Mas afinal, qual seria realmente o seu local de origem ? Eis aí uma lacuna a ser preenchida por aqueles mais curiosos, interessados e com espírito descobridor. No meio de tantas dúvidas, uma coisa é certa: o côco tem origem é no povão! Sobre a sua forma de expressão, os pesquisadores ‘definem’ muitos ‘tipos’ de côco. Não seria muito confiável uma classificação diante da diversidade descrita por eles. O que observamos é que as variações do folguedo ocorrem pelas mudanças de nomenclatura de uma região para outra, por algum aspecto na dança e, principalmente, pela diferença na métrica dos versos que são cantados. Contudo, de maneira geral, o côco apresenta uma forma básica: os participantes formam filas ou rodas onde executam o sapateado característico, respondem o coro, e batem palmas marcando o ritmo. Muito comum também é a presença do mestre “cantadô”. A festa sempre inicia quando ele “puxa” os cantos, que podem ser de improviso ou já conhecidos pelos demais.
O côco pode ser dançado calçado ou descalço. Ele não possui vestimenta própria. Para participar, as pessoas utilizam qualquer tipo de roupa.
Este folguedo, aparentemente, não possui datas fixas para sua realização, ocorrendo em qualquer época do ano, embora seja mais facilmente encontrado no período junino. Em seu aspecto musical, os instrumentos de percussão são predominantes. Ganzás, bombos, zabumbas, caracaxás, pandeiros e cuícas são os mais encontrados nas descrições dos folcloristas. No entanto, para se formar uma roda de coco, não é necessária a presença de todos estes instrumentos. A brincadeira muitas vezes acontece apenas com as palmas ritmadas dos seus integrantes. Dentre suas características mais gerais podemos destacar o seu espírito comunitário. Em um clima de muita alegria, homens, mulheres, crianças, de qualquer classe social, cantam, dançam e misturam-se sem nenhuma distinção. No que se refere às suas influências étnicas, a presença africana é clara, principalmente no ritmo, e em certos movimentos da dança. Encontra-se também uma forte contribuição indígena observada nos movimentos coreográficos, pois tanto a roda como a fileira são heranças dos nossos nativos.
Depois se colocam na frente de outros pares da roda com quem também trocam umbigadas, enquanto os “visitados” se dirigem para o centro, dançando e sapateando. Esta modalidade de Coco desapareceu e hoje os pares não mudam e não trocam umbigadas.
Dançam dia e noite, com sapateado forte, como se pisoteassem o solo em uma aposta de resistência.
O Côco se popularizou e atingiu os salões de dança no nosso Estado, através da “coquista” Dona Selma do Côco, que é hoje a sua maior representante, resgatando o velho ritmo no Nordeste.
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