Onde tudo começou
Filha de agricultores, Vitalina Alberta de Souza Paz, 81 anos, nasceu no dia 11 de abril de 1923 no Engenho Muçaiba – Jaboatão dos Guararapes, município distante 30km do Recife. Aos 12 anos de idade, em 1935, compôs a primeira CIRANDA. A partir de então começou a dividir o seu talento nato para a arte, com a família, com os amigos e com o povo que a consagrou.
“Minha mãe era uma santa”
A pequena Duda ainda era uma criança, mas já fazia brincadeiras de roda com amigas, cantarolando as canções folclóricas da época. Provavelmente do tio Manoel, irmão do pai, que era coquista, repentista e contador de causos, tenha herdado o talento e a versatilidade para a arte. Um fato que a primeira vista pode parecer estranho, no mínimo curioso, é que sem conhecer uma praia, e muito menos a praia onde, no futuro, passaria a residir, a pequena Duda, na primeira ciranda de sua autoria, com apenas 12 anos, faz citações à praia do Janga.
O Primeiro Encontro com o Mar
Com o fim do primeiro casamento, em plena juventude dos 19 anos, acompanhada da irmã Anésia, Dona Duda foi procurar uma casa para alugar na praia do Janga. 25 de agosto de 1942.
“Ah! Criatura!, quando avistei o mar...
Eu achei que era meu jardim!
Achei a coisa mais linda da minha vida...
Me apaixonei pelo mar...
Como é lindo esse jardim do meu DEUS”
“Eu cheguei na praia avistei a areia...
A maré ta cheia, eu não vou passar.
Venha canoeiro, venha me buscar
Que a maré ta cheia e pode me matar”
Canto sempre preocupado com a divulgação dos temas do cotidiano popular, da natureza e do amor, elementos que entremeiam as festivas motivações artístico-culturais da praia do janga.
A Ciranda está no Sangue
No início dos anos 50, quando vê os filhos dos pescadores soltos na beira do mar enquanto os pais se divertiam na dança do “coco de roda”, um tipo de dança não recomendado para crianças em vista do forte apelo explícito da sensualidade, Dona Duda imagina reverter aqueles horizontes um tanto desairosos para a observância dos bons costumes e dos deveres. Resolve convidar a todos para participar de noitadas com roda de ciranda com a única preocupação de divertir a criançada. Cantava o refrão de uma música e pedia que todos repetissem. Ao mesmo tempo começa a ensinar a coreografia imitando as ondas do mar, batendo na areia como se fosse um gostoso “vai e vem”.
A princípio, Dona Duda não utilizava a percussão, cantava à capela. Depois, pede a um conhecido que confeccione alguns instrumentos, por ela própria estilizados: zabumba de macaíba com pele de couro de boi, tarô feito de lata e pele de bode e o ganzá de lata com milho dentro para permitir um com mais primitivo.
Os comentários chegam aos pescadores que pouco a pouco vão abandonando o coco de roda para acompanhar os filhos.
Por essa época, diversos artistas que até então apenas cantavam coco e maracatu, foram por ela chamados para participar da ciranda. Todos acabam e se integrando de vez a esse novo bailado, de dança e de música. Entre eles: Baracho, Zé de Lima, Zé Custódio, Zé Grande e Zé de Limoeiro.
O sucesso da ciranda ultrapassa as fronteiras pernambucanas. Personalidades de todos os segmentos da sociedade, principalmente os do cenário musical, não apenas do Brasil, também do estrangeiro, chegam para conhecer a ciranda de Dona Duda.
A ciranda dos tempos atuais é do conhecimento de todos, praticamente ocupa o coração da maioria das cidades no Nordeste, principalmente na região praiana, onde sempre haverá de existir um cirandeiro de plantão para consagração das festas populares, engrandecendo ainda mais, qualquer roteiro turístico, além de ter sido admitida no repertório de alguns dos mais conceituados cantores e compositores da conteporânea Música Popular Brasileira.
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Onde mora hoje a Dona Duda? Ela ainda está viva?
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